Algum dia perde-se o fio condutor. Algum dia. Há sempre um dia que se perde. De manhã até à noite. Há sempre um dia em que nos sentimos inúteis e sem nada. Nem as viagens no comboio tardio nos fazem bem, nem olhar o rio nos faz bem. Fica-se com o olhar preso no vazio da janela, onde a transparência nos mostra coisas que nem vemos tão pouco. E quando entramos num espaço escuro, vemos o reflexo das outras pessoas. Sempre gostei de observar as pessoas pelo reflexo do vidro. Elas mostram-se aos nossos olhos e olham-nos. No reflexo não há o medo de olhar as pessoas nos olhos, porque elas pensam que não as olhamos realmente. Pensam que olhamos para algo lá fora, através da transparência. Elas pensam assim. Mas as coisas não são assim. Porque há dias que são muito, e outros que são nada. E quem me dera, repartir o muito pelos muitos dias, para ter sempre alguma coisa todos os dias.
As palavras nestes dias que correm parecem tudo menos palavras. E eu fico calada, a pensar no reflexo das pessoas que vejo nos comboios. O quanto elas se mostram nos reflexos. O quanto elas se escondem fora deles. Palavras palavras difusas, vagas. É que eu sei que algum dia perco o fio condutor, perco não um, mas dias e dias. É sempre assim dizes, e eu sei que é.
As palavras nestes dias que correm parecem tudo menos palavras. E eu fico calada, a pensar no reflexo das pessoas que vejo nos comboios. O quanto elas se mostram nos reflexos. O quanto elas se escondem fora deles. Palavras palavras difusas, vagas. É que eu sei que algum dia perco o fio condutor, perco não um, mas dias e dias. É sempre assim dizes, e eu sei que é.