terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Fazes-me falta

Fazes-me falta. É esta a frase que hoje o meu corpo todo ouve. Os meus braços, os meus olhos e especialmente o coração. Parece que o coração foi à máquina de lavar num programa estranho, desses que as máquinas de lavar têm e que eu não percebo, e ficou pequenino. Sinto-o apertado demais. Não sei se foi por ter encolhido ou por se ter tornado demasiado pequeno para o espaço que ocupas. Cada vez mais e mais. Deves saber isso...
Durante as viagens de comboio, sinto a ansiedade crescer, e a frase a crescer dentro de mim: fazes-me falta.
Faz-me falta sentir o teu calor na cama, a mão que fica pousada na minha perna e à medida que adormeces vai escorregando e tremendo com os teus sonhos. Faz-me falta sentar-me no sofá contigo, e de vez em quando olhar para ti, saber que estás ali, a olhar-me com aquele olhar bonito, que só me dá vontade de sorrir com os olhos. Faz-me falta a tua mania da arrumação, da tua organização no meio do que é o meu caos. Faz-me falta ver-te muito pertinho debaixo dos lençóis e ver a tua boca abrir-se num sorriso, que nunca tem hálito matinal mau e sabe sempre bem. Faz-me falta cozinhar contigo e discutir formas de fazer o arroz e apreciar a forma como fazes as coisas, onde pões a colher de pau, como temperas as coisas. Faz-me falta ir às compras contigo e ver como tudo tem de seguir uma ordem lógica e prática e quando te peço para irmos buscar isto ou aquilo,algo que já passamos umas mil vezes, tu soltas todo o ar dos pulmões impacientemente, mas aceitas e vamos buscar, porque gostas de mim. Faz-me falta pôr as minhas pernas em cima das tuas, que aceitas sempre, apesar de poder ser desconfortável às vezes...e é um terrível hábito meu, mas quando dou por mim ocupo metade do sofá, metade da cama, metade de tudo. A verdade é que gosto de estar junto a ti. Literalmente. Faz-me falta acordar a meio da noite, e de te ver seguir todos os meus movimentos, sempre atento. Só não sinto falta de acordar na manhã em que me vou embora, com o despertador a tocar de cinco em cinco minutos, adiado e adiado à exaustão para termos mais um bocadinho naquilo que nós somos. E quando vais a frase começa a vibrar baixinho.
E talvez seja por isso que sinto assim o coração. Está viciado em ti, e durante os dias que não estás ele "acostuma-se", não se acostumando de verdade, com a ausência. Depois quando voltas, imagino que o que ele sente seja parecido com a sensação de um viciado a ter uma recaída e a voltar ao seu vício.
Hoje estou na minha cama, no meu quarto, na minha casa, mas sinto que deixou de ser a minha cama, o meu quarto e a minha casa. Não me sinto mais em casa, porque a minha casa és tu.
E por isso fazes-me falta.