domingo, 29 de março de 2009











Centre Pompidou, 2007

Dissertações de um bêbado

Hoje entrei sozinho pelo meu pé, na tasca do António, pelas nove e meia da noite. Resolvi que hoje ou me embebedava ou então corria nu pela estrada. Julgo que fiz a escolha mais sensata. É que hoje eu precisava de sentir uma merda qualquer. Nem que fosse vergonha por estar nu e a correr, ou o entorpecimento geral que agora estou a sentir.
Podem vocês perguntar e bem, como é que um bêbado consegue articular ideias. Pois bem, estou a pensar, não estou a falar. É mais fácil assim. Os músculos da língua, estão encharcados em cerveja, já tentei há coisa de um minuto e meio falar, e é melhor não. Sinto-me deprimente.
Às nove e meia da noite entrei e sentei-me sozinho numa mesa e pedi uma cerveja sozinha. Não acham estranho, quando nos sentamos sozinhos e pedimos coisas sozinhos? Eu costumava achar muito estranho quando era novo, mas agora é a força do hábito. A verdade é que há coisas que um homem tem de saber fazer sozinho. Isto é uma delas, embebedar-se sozinho, viver sozinho…as outras coisas, as outras…vocês sabem, claro que dá jeito. Adiante. Depois dessa pedi outra, e depois outra. Depois da terceira, sentei-me ao balcão e perdi a compostura que as pessoas quando estão sós têm a mania de ter, para se sentirem seguras. Aquele ar interessado no espaço envolvente, a postura muito direita e confiante de quem não está a pensar que gostaria de estar acompanhado. No fim da terceira, já tinha desapertado a camisa até a meio, o casaco andava perdido na minha mesa a tentar agarrar-se às costas da cadeira, o cabelo já estava desgrenhado e já começava a coçar as costas e a esgravatar as orelhas.
Digo-vos, eu nunca fui de beber muito, é por isso que três cervejas chegaram. Mas eu continuei. Tinha decidido que hoje era o dia. Pedi uma vodka com limão e no fim outra cerveja. E o álcool já me escorregava tão bem que me parecia água. E ao fim de mais dois martinis, estou aqui. Tenho a cabeça colada ao tampo do balcão e sei que as pessoas estão a olhar para mim com aquele misto de pena e nojo. Só queria poder dizer que não entrei aqui às nove e meia para me embebedar. Só queria sentir qualquer merda.
E enquanto não sou daqueles bêbados que falam muito alto e gritam ao mundo que a mulher os deixou, já estão com muita sorte. Por falar em mulheres, o amor é um gajo fodido. Acaba sempre em merda. Pelo menos, aqui estou sem uma mulher há doze meses, talvez mais. Digo doze meses para não parecer um ano. Discrepâncias disse-me ela. Outro gajo disse-lhe eu. Ela virou-se e deu-me um estalo como eu já não me lembrava de apanhar, e eu mandei-a foder. Se fosse eu a dizer as tretas das discrepâncias, ela dava-me um estalo e ia perguntar-me aos gritos quem era a galinácea. Eu disse outro gajo, num tom calmo e assertivo. É assim. Porque se um gajo quer brincar, não é nestas coisas. No filho da puta do amor não se brinca. Isso é para meninos que não sabem o que querem. E ela mandou-me areia para os olhos, e por isso mandei-a tratar das discrepâncias dela nos quintos dos caralhos nos píncaros.
No outro dia é que pensei bem nesta coisa toda do amor. Se eu amo alguém e lhe bato, eu amo-a na mesma, tenho é uma forma peculiar de a amar. Claro que é uma visão hiperbolizada do assunto, eu nunca bati em ninguém que gostasse nem pretendo fazer. Acho esses gajos uns sacanas.
Antó...nio…cer…ve…jaaa…
Ele ficou a olhar para mim com um ar de quem não me vai dar cerveja.
Mas vamos reparar nesta linha de pensamento. Se eu bater na mulher e amá-la até ao puto do infinito e ela gostar, não há discrepâncias. Se eu não bater e não gostar, nem sequer há tempo para discrepâncias. Se eu bater e amá-la até ao puto do infinito e ela não gostar, então há discrepâncias. E então voilá, é tudo uma questão de gostos. Ou então é tudo só uma competição para ver quem é que arranja a gaja ou o gajo perfeito. Essa merda não existe. Somos todos uns merdas que fodemos os outros ou nos fodemos. Essa merda das pessoas perfeitas é uma estratégia de marketing daquelas coisas dos telemóveis, “o termómetro do amor” venderem. A puta que os pariu a todos.
A cerveja chegou. Olho para o António com um ar de quem não o está a ver, porque não estou. Parece uma coisa de luz a mover-se de um lado para o outro. Raio do António, parece que dança o samba.

sábado, 28 de março de 2009

A minha gata bizarra

Os meus gatos são muito estranhos. Mas acho que esta consegue bater os outros dois. Este vídeo, para além de demonstrar que ela tem uns certos distúrbios, demonstra também que esta capa consegue cativar não só pessoas, mas gatos também xD
Reparem bem no ar que ela faz a olhar para a capa, e não reparem em como todas as minhas coisas estão espalhadas pela mesa xD Só digo isto 1:35!Brilhante...



Nota: Intervenções e vídeo realizado por Inês Nunes

Ando a reparar cada vez mais, que as pessoas têm problemas com pessoas que se exprimem em público. De cada vez que uma pessoa grita na rua ou no autocarro, cada vez que uma pessoa corre sem motivo aparente, cada vez que uma pessoa dança uma música imaginária, é um motivo para todos os pares de olhos se concentrarem em nós. Isso de facto, é estranho. Não me acredito que não haja ninguém que não faça isso longe dos olhares estranhos. E então porque é que não deixamos transparecer quem somos para que os estranhos passem a conhecer as nossas estranhezas?
Parecemos todos uns raios de uns robots…

sexta-feira, 13 de março de 2009

Thom Yorke maravilha

A música de Thom Yorke é sublime. Ele prova a sua genialidade nos Radiohead, e a solo dá-nos a provar a combinação de sons mais original de sempre. E sou capaz de ouvir tanto um como outro repetidamente. E depois é a diversidade. Não se fica só por um estilo, conjuga-os, recria-os. Verdadeiramente sublime e bom.
Hoje à noite fico-me pelo Thom Yorke a solo, e ouço-o de fones postos para não perder nenhum som e descobrir outros tantos que se perdem quando o som se espalha.
E fico maravilhada quando o simples som de uma mola, pode fazer a diferença, e como o jogo de sons se junta e forma uma melodia que nos pode embalar infinitamente. E esta música tem o dom de nos fazer pensar que andamos numa rua com a luz de pôr-de-sol, no meio de pessoas estranhas. E faz-nos sentir que encontramos o sentido do mundo. E as palavras ficam-me "I don't care what future holds, cause I'm right here and I'm today, with your fingers you can touch me". E ficam-me, por ser difícil não querer saber...



Os videoclips, como sempre, têm um toque de animação. A forma como as imagens se encaixam...Bolas...

domingo, 8 de março de 2009


O Porto tem algo à luz da tarde que sabe mesmo bem. Talvez seja pelas pessoas que por lá passam e o cheiro que delas sai. A curiosidade a espreitar em cada esquina, e cada esquina com mais cor que a outra. Assim é o Porto e o Quarteirão Miguel Bombarda. E assim o foi hoje. Hoje (ou melhor ontem), realizaram-se as inaugurações simultâneas de exposições de arte contemporânea por toda a rua. E houve cor, e a animação de rua, e todas as pessoas de todos os tamanhos e feitios. Foi pena não saber do acontecimento mais cedo, para poder divulgar aqui.
Das exposições não tenho nada palpável para mostrar. A máquina fotográfica ficou à parte. Interessou-me mais absorver tudo com os sentidos. Atento porém, na visita à exposição de Júlio de Matos, onde havia uma sala longe da vista de todos com quadros e peças de outros autores, muito expressivas e que brevemente terão espaço nessas mesmas galerias. Eu vou estar atenta a isso. Posso dizer também que é bom ver como a arte está a ganhar corpo e vida, e como é bom por momentos sentir a Rua Miguel Bombarda equiparável a uma rua de um país estrangeiro.
Do dia, só captei a paragem nos Leões. O sol já não se fazia sentir há alguns dias, e a luz do Porto convidou a pousar o corpo mesmo aqui, por entre cerveja, chocolates e danças sem sentido de músicas que nos fazem sentir. Haja mais dias assim.
Há músicas muito boas, outras boas, outras que se ficam pelo razoável e depois as más e as mesmo muito más. Foi por isso que fiquei intrigada ao descobrir de forma inesperada esta música e iniciei um diálogo interno.
- Onde é que vamos pôr esta música?Mas onde?
- Vamos pôr nas boas?
- Não, não vamos fazer isso. Até porque comi um iogurte à bocado e isso não me faz bem.
- Então upa, já sei! Vamos criar a "categoria das hilariantes".
- Vamos a isso.
E assim foi. Aqui vos deixo a história de dois amigos Daddy Kall e Latino que mantêm em toda a música o tom angustiado, muito ao jeito romântico. Se não quiserem ver até ao fim, eu percebo, mas pelo menos vejam a cena final e irão perceber o porquê do título da melodia com ritmos da América latina: "Amigo fura olho". O sacana do Latino! Havia de não ter mais sucessos na vida. Furar assim o olho ao Latino. Este mundo está perdido...Atentem na letra e no videoclip marcado pelas imagens escaldantes e pela dor.



E parece que ainda ouço num breve suspiro a palavra amigo...
P.S. Esta música faz-me lembrar uma pessoa a tirar uma lágrima da face de outra e a colocá-la na sua face onde possui também uma lágrima e as junta, descrevendo o seu trajecto. xD

sábado, 7 de março de 2009

Os deuses deviam estar loucos quando fizeram um mundo assim. Um mundo onde toda a gente vê aquilo que quer ver, e não pode ver mais do que aquilo que sabe. E sempre que se sabe que vai voltar a acontecer aquilo que já se sabe, não se quer saber, não se quer ver. Andamos em voltas curtas e compassadas, desenhadas por aqueles que sabem desenhar e que têm lápis melhores que o meu, que nós, talvez…Só porque assim o queremos.
As linhas surgem diante dos nossos pés, como rastos prolongados de passos já marcados e feitos por outros. Basta segui-los, esperar um novo traço ou marcar outro invisivel. Esse novo traço nunca vem só. Nunca vem com a simplicidade solitária de um novo caminho. Esse traço por mais certo e linear que seja, nunca é aquilo que parece. Pede mais de nós. Pede demais dos outros. Mais do que aquilo que poderemos aguentar. Um novo traço não implica só uma nova saída, um novo encontro de eus, uma multiplicação exaustiva de escolhas e caminhos. Apresenta simplesmente mais, significa escolhas e mais escolhas que levam seguramente a algo incerto, mau ou momentaneamente bom. Não sei se plenamente e para sempre bom. Infelizmente, foi o mundo que os deuses fizeram e é assim que ele existe.
As histórias são contadas de cima para baixo, do lado esquerdo para o direito, se as pessoas forem esquerdinas, ou do lado direito para o esquerdo se as pessoas forem destras. Há formas e formas de contar histórias, e eu apenas conto aquilo que vejo, sem ligar à forma. Posso começar no fim e acabar no início e tudo fazer sentido assim. O importante aqui, é que os deuses deviam estar loucos quando fizeram um mundo assim, em que nada realmente tem o significado vulgar, em que ninguém faz o que deve fazer, onde ninguém diz o que realmente sente, onde as nossas linhas surgem imaginárias e temos de adivinhar o que fazer a seguir. Por isso conto a história de como o mundo é, e como os deuses o fizeram, sem quê nem porquê, porque sim. No fundo não há realmente lápis que possam aparecer nas nossas mãos e que nos deixem desenhar. O que desenhamos é transparente e ninguém vê, nem nós vemos, logo não desenhamos, não ditamos o rumo da razão. Não ditamos coisa nenhuma, e ditamos tudo se quisermos. Somos nós presos a lápis melhores do que os nossos, que nos dão as linhas para seguirmos. Assim parece a quem quer dizer de boca cheia que os deuses são os nossos deuses e nós somos a sua criação. O futuro só aos deuses pertence, dizem eles. Desculpas para parecermos todos pessoas inofensivas, pobres coitadas num mundo onde deuses não existem na terra, só no céu.
Um dia os deuses pensaram em criar o mundo. Criaram-no em três dias e meio. Decidiram que no outro meio do último dia iam escrever histórias a começar do meio, do lado esquerdo para o direito do z para o a. Escreveram histórias macabras, com pés na cabeça, e cabeças nos pés e deixaram-nas nas estantes, prateleiras e gavetas das suas próprias casas fechadas a correntes com sete chaves e cadeados pequeninos a ladear tudo. Depois como ainda não era de noite, criaram um homem e uma mulher e deram-lhe vida e história e dois lápis invisíveis para escrever. Depois vieram os outros, vieram aqueles, vieram estes e também estes. Muito depois viemos nós, vim eu, tu, ela e ele, vocês. Os primeiros não passaram a palavra, não se lembraram ou não quiseram, mas nós podemos ser deuses também.

Estava a pensar em algo para abrir o blog, e eis que me lembrei deste grande senhor!
Há algo de facto engraçado em pessoas que tocam violino como guitarras com meias às riscas.Vejam mais...este senhor em concertos é um louco do violino! O som do xilofone é algo mesmo bonito, só me dá vontade de dançar ainda mais! A melodia é muito boa, e as palavras não ficam atrás.



Os bicharocos são engraçados, embora me lembrem tias muito pintadas a beber chá xD

Começo

As ideias que por cá passam, precisavam de ganhar vida e conhecer outros cantos. Não só em palavras meramente literárias. Precisavam de ganhar vida em palavras simples, absurdas ou de revolta, na música, no misto de sentidos. E nada melhor que um discurso directo para o fazer. E é como se eu fosse milhares de eus a extrair o que quer ganhar vida. É como se eu fosse a milhares de lugares e pessoas sem sair. E sabe bem bem bem bem bem…
Hoje nasce este blog. Que muitos discursos directos se ouçam!