domingo, 5 de julho de 2009

As pessoas passam, correm e andam. Param e conversam. Às vezes a solidão é tanta que se deixam a falar com o vizinho que não gostam tanto ou com as pessoas que passam na estação de comboio. As pessoas passam, correm e andam como tudo o que é, o que existe. Não há maneira de alterar o rumo das coisas. A sucessão das coisas a repercussão. A senhora que atravessou a passadeira sem olhar porque o guarda-chuva não abriu, o carro que não parou porque vinha rápido demais porque o senhor estava atrasado. As pessoas paradas. A falar, a comentar, quem tem a culpa. E não há maneira de alterar o rumo das coisas, porque tudo tem sentido e bate certo.
Não há maneira de ditar o rumo das coisas, por mais que revire a cabeça, pensa ela. Que lhe solte os parafusos e a abra em busca de coisas que não existem. Não existem. O que vem para lá do que vejo, não existe. E eu não consigo parar de procurar o que procuro. Quero parar e ver o que vem contra mim agora, e só penso no que vem depois, depois, o que vem depois. Os pés no ar não dão certo. A cabeça muito menos. E é o corpo todo que tenho a pairar, por partículas do que as pessoas são e me deixam. E é o que eu tenho por agora. Como um cão na rua. Como um cão na rua que as pessoas alimentam do que sobra, eu alimento-me dos momentos que me podem dar. O contínuo, o constante, o momento constante em que eu era o corpo constante de sentimentos constantes, sem medos, sem pensamentos do futuro. O que é o futuro, porque é que importa tanto. A sobrevivência do momento devia bastar. Mas não basta mulher. Tudo isto pensa ela enquanto o vazio lá fora se deita para dormir. Todos já foram rapariga. Vai tu também. Pára. Livra-te do que te faz pensar agora. Pára, já te disse. Vais continuar a fazer esse ar de que a vida não presta? A vida presta, tu é que não a sabes viver. Agora vai. Faz-te um homem, faz-te alguém.


As pessoas passam, correm e andam. É esse o modo como as coisas se processam. E tu estás a correr. E tu estás a fluir em mim.

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