quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Ela disse-me que a noite sabia a campos de terra batida e relva acabada de cortar, e eu acreditei. Acreditei, mesmo não sabendo de que é que ela falava. Acreditei quando ela me disse que a lua tinha uma cara, com dois olhos, um nariz e uma boca, e que as nuvens tinham formas de animais ou pessoas. Acreditei, mesmo não sabendo do que é que ela falava. Quando ela me disse que conseguia falar ao contrário, e que a saliva era um bom remédio para quase tudo, eu torci o nariz, mas depois acreditei. Porque ela é pura e inocente, como uma pequena formiga. Porque ela é frágil e cheira a um perfume doce, que me embala quando o julgo reconhecer na rua, perdido por entre cheiros que nada igualam o dela. Julgo senti-lo porque as pessoas são uma mistura de pessoas, e nelas conseguimos ver outras. Ou assim esperamos. Esperamos ver quem procuramos, quem precisamos. E eu preciso dela, como aquela vontade de comer que se sente pela manhã, quando acordamos. Preciso dela, como aquela vontade de beber água de noite, quando a garganta fica seca. Eu acreditei nela, quando ela me disse que a vida é mesmo assim. Acreditei, mesmo não sabendo do que é que ela falava.

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